segunda-feira, 22 de abril de 2013




Por Adriana Monteiro



Tenho a prática de todo ano me propor um desafio novo. Algo que de repente fuja às atividades cotidianas. Que necessite de um investimento de energia focalizada, concentração, envolvimento e sentimentos de eficácia perante as ações que preciso desempenhar.

Busco alguma atividade que eu não tenha domínio. Que inicialmente possa ser interpretada por mim como uma tarefa difícil, desafiadora. Aos poucos, envolver-se nessa oportunidade de ação e crescimento, de superação com prazer dos desafios, me faz vivenciar um estado de “FLOW”.

Esse “estado” nos permite a expansão do repertório do pensamento e atenção, fornecendo a base para a confrontação perante as situações negativas de maneira criativa e inovadora. Auxilia ainda na geração de recursos pessoais e sociais, que servem como fatores protetores úteis para promover a saúde no futuro.

E você, o que tem feito para transformar as adversidades da vida num desafio gerador de satisfação?

Escolha seu próximo desafio, um curso de dança, pintura, um novo esporte, um blog, ... use a imaginação e vivencie um estado "FLOW"!


Uma ótima semana produtiva para todos,

Adriana Monteiro

terça-feira, 16 de abril de 2013

Com que roupa eu vou?



Estou lendo um livro muito interessante: The Happiness Advantage, do Shawn Achor.

Professor de Harvard por mais de 10 anos, Achor é um dos grandes estudiosos da Psicologia Positiva, e muito do que ele prega mundo afora pode ser aplicado ao nosso dia-a-dia executivo, com relação direta com os temas de gestão de stress e produtividade.

Um dos pontos que chama a atenção, logo no inicio, é sobre a importância da convivência com amigos e família em momentos de stress intenso, relacionados ou não ao trabalho, como forma de combater o isolamento e diminuir as chances de depressão. Difícil de colocar em prática quando pensamos na carreira, pois quanto mais trabalhamos e ficamos estressados, menos tempo dedicamos para as pessoas que estão ao nosso lado. Mas faz todo sentido. Quem já passou do ponto no trabalho de forma séria, sabe como é se sentir desconectado da família e dos amigos, e como o ciclo pode se tornar vicioso e perigoso.

Outro ponto importante levantado é que o stress no ambiente de trabalho se espalha como aquele tipo de fumaça inalada por fumantes passivos. Ou seja, de forma imperceptível o seu nível do stress, o de seu colega ou, principalmente o do chefe, influencia diretamente no ambiente da empresa, nos humores e reações de todos. No caso dos líderes, isso é ainda mais relevante, por sua influência nas politicas das empresas e na cultura organizacional, por normalmente servirem de exemplo para os demais e também pelo fato de que os gestores tendem a interagir com um número maior de pessoas todos os dias. Somamos a isso o fato de que trabalhadores infelizes (por conta de chefes estressados, por exemplo) faltam mais ao trabalho por motivo de doença: em média 15 dias a mais por ano do que os demais. Ou seja, os efeitos da fumaça tóxica do stress podem ser nefastos para a produtividade nas empresas.

O autor traz também o conceito da Linha Losada, pesquisa que atesta que é preciso 2,90 interações positivas para cada negativa para se construir um time de sucesso. De novo, vemos claramente as influências de reações positivas ou negativas nas pessoas e no ambiente.

Em meus workshos e palestras, sempre falo sobre o fenômeno da cabeça e alma presas, que é quando trabalhamos tanto que, nos poucos momentos em casa com a família ou com os amigos, não conseguimos desconectar dos assuntos do escritório. Shawn Achor fala sobre este tipo de comportamento, relatando que muitos executivos julgam o tempo livre como algo improdutivo, seja com hobbies ou mesmo com a família. Alguns chegam ao cúmulo de calcular o quanto poderiam estar ganhando se estivessem cobrando alguém por aquele tempo…

Mas nem tudo é sombra ou agonia. O argumento principal do livro está justamente na importância da ótica positiva em relação às nossas vidas. Especificamente sobre o trabalho, três aspectos-chave são cruciais para construirmos satisfação e sustentabilidade: prazer, engajamento e significado. Precisamos ter prazer com o que fazemos, seja pelo resultado, aprendizado ou remuneração. Precisamos estar engajados com os desafios, com a empresa e seus objetivos, com o que queremos construir conjuntamente. E precisamos de significado, de propósito. Isso significa que o trabalho tem que fazer sentido no caminho de longo prazo que estamos construindo para nossas carreiras e nossas vidas.

E por que isso é importante? Antes de mais nada, porque se estivermos felizes com o trabalho, passaremos a maior parte das horas de nossos dias de forma mais satisfeita. Mas também porque a felicidade pode melhorar nossa saúde física, e nos fazer trabalhar de forma mais rápida, produtiva e criativa. Está cientificamente provado que emoções positivas geram a produção de dopamina e serotonina, que geram bem-estar, e também ativam os centros de aprendizado de nossos cérebros.

Isso explica o sucesso de certos programas de qualidade de vida com os chamados espaços de descompressão. Para as empresas que realmente estimulam seu uso, e cuja iniciativa não tem ligação somente com divulgação interna ou externa, todas as vezes que os colaboradores usam estes espaços ao fazerem uma pausa estratégica, geram bem-estar e um pouco de felicidade interna, e por consequência se tornam mais propensos à criatividade e à inovação.

Dentro da mesma abordagem, a pesquisadora Amy Wrzesniewski atesta que podemos ver o trabalho como um simples emprego, uma etapa de carreira ou um chamado. Só depende da nossa própria perspectiva, independente de posição hierárquica (Amy relata ter encontrado médicos que tinham apenas um emprego, e zeladores que viviam seu chamado). Daí a ideia central proposta no livro: encontrar a perspectiva certa e construtiva para que possamos viver uma vida mais plena, mais satisfatória.

Para que isso ocorra profissionalmente, devemos pensar no trabalho de uma forma diferente, começando com uma simples lista dos aspectos que fariam com que outras pessoas quisessem ter a nossa posição. Parece até uma prática tola, mas tem fundamento. Em primeiro lugar, porque somos treinados sempre para desenvolver um olhar para o negativo: os erros nas provas, os problemas no texto, a falta de condução lógica em um argumento, a celulite, a roupa que não combina. O foco está sempre no menos, no feio, no imperfeito, na falha. E acabamos levando essa forma de pensar e agir para nossas vidas, e para o trabalho. Vemos, com muita clareza, o que não está bom: acho que não ganho o suficiente, meu chefe não me escuta, o ambiente da empresa não é bom, a burocracia impera e assim por diante. Tudo isso gera grande propensão ao stress, que pode gerar sintomas ligados com depressão ou falta de saúde física, bem como casos mais sérios ligados ao abuso de álcool e remédios.

Portanto, além do lado bom do trabalho atual, devemos registrar três coisas boas que aconteceram no dia, todos os dias. Isso mesmo, todos os dias. Como uma espécie de combate ao negativismo e ao olhar excessivamente crítico, temos que desenvolver o olhar mais positivo, mais construtivo, mais leve. Jogo do contente? Até pode ser, mas pare para pensar em como a carga é negativa à sua volta em relação a críticas e apontamentos depreciativos e até que ponto esse não passou a ser também o seu próprio tom pessoal.

Para tentar construir uma atitude mais positiva, eis algumas dicas:

1. Meditar: parar um pouco, nem que sejam 10 minutos por dia, para refletir e criar uma pausa individual, de silêncio interior;
2. Ansiar por alguma coisa que vai te fazer bem: uma viagem, um final de semana romântico, uma partida de futebol com os amigos, vale qualquer coisa. Desde que a vibração seja de antecipação e otimismo;
3. Realizar atos conscientes de gentileza, todos os dias. Gentileza gera gentileza, diz o ditado, e também gera bem-estar interior;
4. Irradiar boas energias ao seu redor: traga para o ambiente do trabalho pequenos elementos que gerem boas lembranças e relaxamento, ajudando no combate ao stress;
5. Praticar exercícios: de novo, a endorfina e seus efeitos, em você mesmo e no ambiente que ajuda a criar;
6. Gastar dinheiro com significado: ao invés de compras fúteis, gaste com um bom jantar, uma viagem, um presente ou uma bela surpresa para alguém que você gosta;
7. Por fim, lembre-se, diariamente, de suas fortalezas, daquilo que faz você ser uma boa pessoa e um bom profissional. Lembre, reflita e vibre neste tipo de atitude.

A escolha é diária e pessoal: que tipo de atitude e identidade você vai vestir hoje?

Fonte: http://exame.abril.com.br